Brasil sai do ranking de países com mais crianças não vacinadas, mas desafios na imunização persistem
Professora da UniFTC alerta que redução na cobertura vacinal tem impactos significativos a curto e longo prazo, destacando a necessidade de maior conscientização
O Brasil deixou o ranking das 20 nações com mais crianças não vacinadas, marcando um importante avanço na imunização infantil, segundo um estudo global divulgado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A pesquisa mostra uma significativa redução no número de crianças brasileiras que não receberam a vacina DTP1, primeira dose da vacina pentavalente, de 710 mil em 2021 para 103 mil em 2023, e na DTP3, de 846 mil para 257 mil no mesmo período. Este avanço fez com que o país, que estava na sétima posição em 2021, saísse da lista negativa, apresentando melhorias em 14 dos 16 imunizantes analisados.
Na Bahia, a cobertura vacinal também tem mostrado resultados promissores. O estado registrou melhorias significativas em 13 das 16 vacinas recomendadas no calendário infantil. Destaca-se o avanço na primeira dose da tríplice viral, que subiu de 63,06% em 2022 para 90,40% em 2023, marcando um crescimento de 23,45 pontos percentuais. O reforço da vacina pneumocócica também apresentou um aumento, alcançando 84,59% neste ano, um crescimento de 17,21 pontos percentuais em relação ao ano passado. Além disso, a cobertura da vacina contra hepatite A subiu de 68,03% para 83,98% no mesmo período.
Segundo a professora do curso de Enfermagem da UniFTC Salvador, Cassia Menaia, a vacinação é essencial para prevenir surtos de doenças graves. “A redução nas taxas de vacinação é um problema de saúde pública que tem impactos a curto e longo prazo”, afirma Cássia. Ela explica que, a curto prazo, a queda na cobertura vacinal resulta em maior adoecimento da população de forma abrupta, comprometendo a organização dos sistemas de saúde locais. A longo prazo, a baixa cobertura permite a permanência de doenças na população, levando a complicações graves e até mortes, além de onerar o sistema de saúde devido aos elevados custos dos serviços necessários para tratar essas doenças.
A docente também destaca que a falta de vacinação pode levar a surtos desnecessários. “A chegada de um indivíduo com um determinado agravo, num cenário em que as pessoas não possuam essa proteção, pode culminar na disseminação da doença de forma rápida e brusca, ocasionando um surto desnecessário e totalmente evitável”, explica. Exemplo disso são os surtos de sarampo observados nos últimos cinco anos, que afetaram 103 países. A estagnação da cobertura vacinal global contra o sarampo deixou cerca de 35 milhões de crianças sem proteção adequada, resultando em surtos em regiões com baixa cobertura vacinal (80% ou menos). Em contraste, países com forte cobertura vacinal não experimentaram surtos.
Desafios e estratégias
Para enfrentar os problemas persistentes na cobertura vacinal e melhorar a imunização infantil, é importante que as estratégias de conscientização sejam aprimoradas e diversificadas. “Desmistificar conceitos e opiniões controversas criadas a partir de informações infundadas e sem sustentação científica é essencial”, destaca Cássia. “Trazer elucidação coerente sobre a vacinação, de forma esclarecedora, e que faça mudar o comportamento e a decisão dos pais, num ambiente em que há pouco espaço para se trabalhar sobre a conscientização, tem sido um dos principais desafios enfrentados”, afirma.
Os profissionais de saúde possuem um papel essencial na conscientização sobre a importância da vacinação. Estratégias como visitas domiciliares, busca ativa dos faltosos, e realização de salas de espera nas unidades de saúde são fundamentais. “Utilizar a educação em saúde para empoderar indivíduos e famílias é importante para aumentar a cobertura vacinal”, enfatiza a professora.