Caco Barcellos fala sobre desafios da profissão e o papel do comunicador no enfrentamento à desigualdade social durante palestra virtual na UniFTC
[vc_row][vc_column][vc_column_text]O segundo semestre da Rede UniFTC começou com uma programação virtual diversificada e repleta de nomes reconhecidos no cenário nacional e internacional, entre eles, o jornalista, escritor e documentarista Caco Barcellos, que nesta terça (11) conversou com estudantes e professores do curso de Comunicação da Instituição sobre suas experiências como jornalista investigativo. Durante a palestra intitulada “Cases de Sucesso”, o repórter investigativo, que atua desde a década de 70 na profissão, compartilhou dicas importantes com iniciantes e profissionais da área.
“Um repórter viciado em delações ou em entrevistas, sem outras apurações mais aprofundadas, corre um risco imenso de errar. E se você defender algo que é mal apurado você se desmoraliza na carreira e não terá segunda chance depois. O tipo de busca que a gente faz é essencial para saber o tipo de história que queremos contar. A coisa mais primária do jornalismo é o onde, como, porquê e quando. É muito difícil cometer erros respeitando essas simples regras”, defendeu Barcellos.
Atualmente, à frente do programa Profissão Repórter, Caco Barcellos ressalta que está sempre em busca de novos talentos em todo país para integrar o seu time de repórteres, mas explica que não é uma tarefa fácil.
“Geralmente são mais de 20 mil candidatos. Me pergunto sempre: ‘qual a trajetória do jovem que eu procuro? De onde ele veio? Onde ele estudou?’ Quando vejo alguém que enfrentou situações como conciliar trabalho e estudo, vejo muita vontade nisso. Saber o que se quer da profissão é o primeiro passo para tomar a sua direção. O essencial é a persistência. Não abrir mão dela nunca. Persistir, persistir e persistir!”, declara o jornalista.
Barcellos também falou um pouco do seu início na profissão e de como a tecnologia invadiu a área da comunicação causando impactos positivos e negativos. “Quando eu comecei as câmeras eram do tamanho de um fusca, hoje uma câmera pode ter o tamanho de uma cabeça de alfinete. Antigamente quando eu chegava nas favelas eu chegava gritando: ‘quem viu?’, ‘quem pode falar?’, hoje eu grito: ‘quem filmou?’, ‘quem gravou?’, ‘quem fotografou?’, para você ver como está a tecnologia. Temos que saber que uma fala em uma entrevista suporta todas as verdades do mundo, assim como todas as mentiras. Os aparelhos te ajudam a comprovar onde estará a verdade. Isso é um avanço muito grande”, afirma.
Sempre autenticando o seu trabalho com a verdade, Caco não deixou de falar das fake news. “A história pode ser contada de forma completamente diferente com muito mais detalhes e verdade. Nessa era de notícias falsas isso é fundamental. É importante que a gente contraponha as informações e separe o que é verdadeiro do que é mentiroso. A opinião dada na TV influenciará a opinião pública. Precisamos pensar que governantes foram eleitos assim e reputações também foram destruídas com essas mentiras”, alega o repórter.
Durante o bate-papo, Caco indicou livros que considera importante na formação acadêmica e, também para quem aprecia boas leituras, como “A sangue frio” (Truman Capote), “Aos olhos da multidão”(Gay Talese), “O mexicano” (Jack London) e “O emblema rubro da coragem” (Stephen Crane) e deixou uma mensagem importante para quem quer seguir a profissão: “o conhecimento é maravilhoso, mas a humildade é o essencial. É a solução para o caminho de uma sociedade politicamente organizada”, destacou Barcellos.
DESIGUALDADE SOCIAL
Quem acompanha o trabalho do profissional Caco Barcellos percebe que assuntos como desigualdade social são frequentes nas reportagens e entrevistas realizadas por ele. Durante a palestra exclusiva para estudantes, professores e convidados da Rede UniFTC ele também não deixou o tema escapar. Se mostrou preocupado com a situação econômica do Brasil e destacou aos futuros comunicadores que são as histórias dos menos favorecidos que devem ser contadas, pois o comunicador precisa se enxergar como um agente de transformação social.
“A desigualdade no Brasil é enorme! Tem brasileiro que vive com 150 reais enquanto outros ganham mais de 150 salários! Que desigualdade é essa? Que realidade eu vou mostrar: a de 103 milhões de brasileiros ou a outra realidade das pessoas mais privilegiadas? Quem é que precisa ser ouvido? Os governantes não têm que trabalhar para todos? Se você cair no erro achando que a boa atuação pública é aquela que te favorece, você está enganado. A origem e a trajetória de cada pessoa contam muito quando o país é desigual”, relata Caco Barcellos.
Caco ainda complementou a questão da desigualdade fazendo um paralelo com a pandemia do novo Coronavírus, dizendo que quem trouxe a pandemia para o Brasil foram os ricos, mas a estrutura que eles têm os favorece em uma recuperação. O jornalista falou dos mais de 100 mil mortos no país ressaltando que a maioria são os mais pobres.
“Pude visitar UTI’s na cidade de São Paulo que possuem uma taxa de 70% de letalidade, ou seja, de cada 10 pessoas que entram nestas unidades de tratamento, somente 3 saem com vida. Conseguem imaginar isso? Tenho que mostrar todos os lados da nossa sociedade, mas são os 80% da nossa população que precisam ser mostrados. Essas histórias precisam ser contadas para que as mudanças aconteçam. Acho uma loucura estarmos no ranking das nações mais violentas e mais desiguais do mundo. Nossa sociedade quer que o nosso cidadão se comporte como um cidadão suíço, mas o paga muito mal e trata ele como um cidadão da Etiópia. Não podemos nos reportar ao mundo ignorando essas diferenças”, retrata Barcellos.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]