Especialistas discutem os impactos na saúde do indivíduo pós Covid-19
Especialistas da área médica estiveram reunidos na última semana na programação virtual de Boas-Vindas aos alunos calouros e veteranos da Rede UniFTC. Na ocasião, foram realizadas diversas palestras sobre a pandemia da Covid-19, seus impactos na saúde dos indivíduos, e evidências científicas acerca do tratamento da doença viral que já acometeu mais de 3 milhões de brasileiros, causando mais de 100 mil mortes.
De acordo com infectologista Antônio Bandeira, presidente do Comitê Operacional de Saúde para Tratamento da Covid (COE) e professor do curso de Medicina da UniFTC, a gravidade produzida pelo coronavírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19, justifica o processo patológico e a busca incansável por terapias que possam intervir no tratamento destes pacientes. “É uma arena de muita disputa científica e não científica, pois estamos no olho do furacão, isso explica as tantas tentativas de uso de medicações e procedimentos para que possamos salvar vidas”, comentou durante a live “O Tratamento da Covid-19: Quais são as evidências?”, realizada na última sexta-feira, 14.
Covid-19 pode deixar sequelas ou ser gatilho para outras doenças
A Covid-19 apresenta um quadro clínico que varia de infecções assintomáticas a quadros respiratórios graves. Embora a Síndrome Respiratória Aguda (SRAG) associada a idade, obesidade, doenças cardiovasculares, pulmonares e renais ainda seja a principal causa de óbito, cientistas alertaram, recentemente, sobre os indícios da doença atingir coração, vasos sanguíneos, nervos, rins e até a pele. Um estudo realizado por pesquisadores da University College London (UCL), do Reino Unido, e publicado na revista científica Brain, indica que o Sars-CoV-2 pode causar complicações neurológicas, como tromboses e acidente vascular cerebral (AVC), mesmo em pacientes com sintomas leves ou em recuperação, sendo que, muitas vezes, elas não são sequer detectadas ou então o são bem mais tarde.
Outro fator levantado pelos especialistas é de que nem sempre o diagnóstico de cura representa a plena recuperação do paciente, especialmente aqueles que precisaram de terapia intensiva. Durante a palestra “O que esperar da Saúde nos Pós-Pandemia?”, na última quarta-feira, 12, o pneumologista e professor do curso de Medicina da UniFTC, Aquiles Camelier, comentou que o coronavírus é tão potente que muitos pacientes, mesmo após a alta, precisam de um tempo para se reabilitarem por completo. “A massa muscular está consumida, a função cardíaca reduzida. Muitas vezes a função pulmonar não retorna de imediato e nós temos que nos adaptar a esta situação”, pontuou. “O indivíduo não vai sair da alta e retomar suas atividades normais no dia seguinte. É preciso promover a recuperação mais rápida possível”.
O professor destacou ainda que a velocidade de acontecimentos durante a pandemia tem trazido a humanidade para uma readaptação na velocidade de solução das coisas. “Muito pertinente o processo que estamos passando, embora ainda não tenhamos todas as respostas”, disse.
O coordenador do curso de Medicina do Centro Universitário UniFTC de Salvador (Paralela) e médico gastroenterologista, Ronaldo Carneiro, lembrou, na mesma palestra, fatores que podem representar chances de evolução mais grave da doença. Ele ainda pontuou novas observações clínicas como o desenvolvimento de doenças funcionais. “É evidente que a protelação da ida ao hospital aumenta a chance de evolução insatisfatória da Covid-19. É possível também que a Covid-19 funcione como gatilho para indivíduos que possuem predisposição a ter doenças funcionais, a exemplo da síndrome do intestino irritável, que não leva a óbito, mas afeta a qualidade de vida das pessoas”.
Tratamento pós-Covid
Apesar de 2 milhões de pessoas estarem recuperadas, o rastro de sequelas nos pacientes curados apontam para a necessidade de um acompanhamento multidisciplinar contínuo. Fisioterapia e mudança da alimentação decorrente da ausência de cheiro e paladar, em alguns casos, estão na rotina do pós-Covid. Aqueles que tiveram os rins comprometidos podem levar meses de tratamento até conseguir se recuperar de um problema renal. O mesmo acontece para aqueles que tiveram predisposição cardíaca.
Ronaldo Carneiro afirmou que o grande impacto da Covid-19 na saúde dos indivíduos após a doença já é evidente e alertou: “Em alguns momentos a gente pode subestimar em função do desconhecimento em relação ao que está por vir, no que diz respeito a termos fisiopatológicos, necessidade de reabilitação física e psíquica destes pacientes”.